domingo, 20 de janeiro de 2008

O Colapso Planetário

Ao longo da história as catástrofes naturais sempre foram um dos fatores determinantes, e possivelmente o de maior relevância, para a ascenção e queda das civilizações. No livro “A Terra em balanço – ecologia e o espírito humano”, o senador e ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore aponta uma série de ocasiões em que a ruptura dos padrões climáticos estáveis resultou em graves problemas sociais.

Uma possível mudança no ciclo das chuvas e dos ventos ocorrida na África, Europa e Oriente Médio teria feito com que o povo Micena deixasse o Egeu. A queda abrupta na temperatura da Europa de 1315 a 1517 fez com que nos anos seguintes as colehitas fossem péssimas, o que gerou desnutrição generalizada e aumento da suscetibilidade a doenças. A erupção do vulcão Tambora, na Indonésia, no ano de 1815, alterou a composição da atmosfera global de tal maneira que na Europa geou durante todo o verão e, nos três anos seguintes, houve chuva em excesso – o que acarretou a perda da safra e, por consequência, fome, desespero e violência.

Com efeito, inúmeros são os casos em que nações ou povos inteiros desapareceram, foram obrigados a se deslocar ou ficaram na miséria devido à falta ou ao excesso de chuvas e de ventos, ao aumento ou a diminuição da temperatura e ao acontecimento de erupções, furacões, inundações, maremotos, terremotos e tornados.

Mas não é sem propósito que tais fatos são relembrados, visto que nos últimos anos o número de catástrofes naturais tem aumentado estrondosamente. O tsunami no sudeste asiático, o furacão Catarina na região sul brasileira, os incêndios em países como Espanha e Portugal por conta do calor excessivo, enchentes na Alemanha e na China, terremotos no Perú, os furacões Katrina, Ophelia e Rita nos Estados Unidos, o terremoto na Indonésia são indícios de que o mundo não está muito bem.

É importante destacar que desde a história antiga não se tem notícia de tantas catástrofes ambientais seguidas. Na verdade, começa a se tornar um consenso a idéia de que existe uma crise ambiental planetária, que consiste na escassez dos recursos naturais e nas diversas catástrofes a nível global surgidas a partir das ações degradadoras do ser humano sobre a natureza.

A problemática ambiental é imensa e ameaça o futuro e o presente da humanidade: escassez de água potável, aquecimento global, buraco na camada de ozônio, superpopulação, desmatamento, desertificação, perda da biodiversidade e falta de tratamento dos resíduos industriais e urbanos são exemplos dos mais graves e urgentes problemas ambientais que a sociedade mundial está enfrentando. A questão agora é saber o quanto essas catástrofes naturais estão sendo causadas ou pelo menos influenciadas pela ação humana.

A esse respeito é esclarecedor a obra do ornitólogo, fisiologista animal e geógrafo norte-americano Jared Diamond, cujo livro “Colapso – como as sociedades escolhem o sucesso ou o fracasso” foi lançado no Brasil ao final do ano passado pela editora Record. Na obra ao analisar o declínio das civilizações o professor da Universidade da Califórnia chegou à conclusão de que a motivação ambiental é um dos elementos mais importantes.

Nesse aspecto, questões como mudança climática causada pelo ser humano, acúmulo de lixo químico, falta de energia e de superutilização da capacidade de fotossíntese são mais relevantes do que as guerras. Isso significa que o sucesso e o fracasso das civilizações, que pode ser entendido como a sua continuidade ou o ocaso, está diretamente relacionado à forma como as mesmas se relacionam com o meio ambiente.

No entendimento de Jared Diamond estariam entre os povos que decaíram por tal questão os maias, os polinésios da Ilha da Páscoa, os anasazis do Novo México, os vikings em suas colônias da Groenlândia, entre outros inúmeros exemplos.

No caso dos maias, ele afirma que o crescimento da população por volta do século VIII fez com que as florestas fossem dizimadas para dar lugar ao plantio de milho, fazendo o solo se esgotar rapidamente. A manutenção do estilo de vida dos governantes e sacerdotes aliada a uma seca prolongada resultou no esgotamento dos recursos naturais e na extinção da civilização.

Já no caso dos polinésios da Ilha da Páscoa, os recursos ambientais, como aves nativas, frangos e tubérculos, foram sendo consumidos em um ritmo acima da capacidade natural de renovação. Enquanto os dozes clãs existentes competiam pela construção do maior moal, que são esculturas em pedra com valor político e ritualístico, a miséria e a pobreza tomou conta do lugar.

Mais do que uma curiosidade histórica ou uma mera teoria científica, os ensinamentos do professor e escritor são importantes porque podem ser perfeitamente aplicados ao tempo presente. Nesse diapasão, é importante lembrar que das cinco razões apontadas para a extinção das sociedades, que são as mudanças climáticas, as modificações no meio ambiente, a pressão de uma vizinhança hostil, a dependência de parceiros comerciais amistosos e a forma como a sociedade reage aos seus problemas, esta é a mais relevante.

Para Jared Diamond os Estados Unidos e a China estão repetindo os erros do passado, ao consumirem os recursos naturais em uma velocidade tamanha e para sustentar um padrão de vida que não se coaduna com os limites do planeta. Em certo aspecto é possível atribuir esse autismo ambiental a toda a sociedade internacional, que elegeu como ideal o modelo norte-americano de consumo e de relacionamento com o meio ambiente.

Enquanto instituições internacionais alertam como o Fundo Mundial para a Natureza alertam que o ser humano já ultrapassou em mais de vinte por cento os limites ecológicos da Terra, parece que a vontade de enfrentar esses problemas não passa além dos discursos. O problema é que, diferentemente das civilizações apontadas pelo geógrafo, cujo declínio teve repercussão eminentemente local ou regional, no mundo globalizado qualquer colapso ambiental será necessariamente planetário.

Sendo assim, é preciso reagir de forma rápida e positiva a esses problemas, já que é dessa reação que dependerá realmente o futuro da raça humana e do planeta. Para isso é necessário que haja um empenho de toda a sociedade civil internacional, além dos governos e dos grupos econômicos, no sentido de cobrar e de implementar um novo paradigma na relação do ser humano com o meio ambiente.

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Perfil

Advogado, consultor jurídico e professor de Direito Ambiental e Urbanístico.